-Consegue lembrar-se de pormenores? - Pormenores? - Sim, descreva-me a cena antes e depois do “acidente”. - Doutor, sei que estávamos no carro, parados na Praça, a falar normalmente… depois comecei a sentir uma forte pressão na cabeça, um zumbido forte nos ouvidos, a seguir a explosão… - Estávamos? Explosão? -Sim, a pessoa morta ao meu lado, tudo a andar à roda… -Morta? -Sim, a Praça em chamas, eu sem sentir nada, a bater a porta do carro, de volta a casa. Sem acudir a minha companheira, ali mesmo, fulminada ao meu lado. E tudo a desmoronar-se em redor e eu a passar por toda aquela catástrofe, coração de pedra, alheio à desgraça… - Senhor Fernando, pare por agora, se faz favor. - Repare, nada do que me conta faz grande sentido. Caso não saiba, apareceu-nos aqui à porta do hospital como outro qualquer paciente, queixava-se de uma forte enxaqueca, pedia só que lhe receitassem algo para suportar as dores, nada mais. O curioso foi começar por trocar a sua identidade, os s