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A mostrar mensagens de 2010

divulgação: leitura encenada Mistero Buffo (excertos) de Dario Fo

CONTAGIARTE Rua Álvares Cabral, 372 - Porto quinta-feira, 17 de Junho de 2010 22:30 - 23:00 Continuando o ciclo dedicado à exploração performativa das palavras - Ar das Palavras - e no âmbito do ciclo Dário Fo que Terra na Boca organiza no decurso de 2010, apresentamos agora uma obra-prima deste nobel da literatura: Mistero Buffo. Estreado em 1969 em formato de monólogo/contador de histórias, e logo alvo de polémica, Mistero Buffo é uma colectânea de narrativas, meditações, anedotas e comentários de inspiração medieval italiana, mas que o narrador/actor/encenador usa para reflectir a nossa realidade social e pessoal, por vezes de forma comovente, por vezes de forma divertida. tradução e adaptação de Jorge Palinhos, direcção de Vanessa Martins, interpretação de Luciano Amarelo, Pedro J. Ribeiro e Vanessa Martins.

da festividade

Deram-nos por baptismo o nome de João. Eu, cresci nas ermas terras do Norte de Portugal, há muitos séculos atrás; ele, cavalgou por terras longínquas, daquelas que nunca a minha vista alcançou. Fui um ser modesto, ajudei quem pude, como sabia, trabalhando nas colheitas, amassando pão, apregoando bons conselhos a gente simples; ele, calejado em retórica, afrontou o poder instituído. Herodes tomou-o por inimigo, combateu-o no deserto, venerou-o no esquecimento. Não lamento ter morrido eremita, longe de todos, deixado à minha sorte, bebendo o eterno sono dos justos; ele, caiu às mãos de um rei sequioso de sangue, guerreiro vingativo de uma filha caprichosa. Partilhamos por uma noite de Junho a alegria do Porto, em festa. Dois homens num mesmo corpo terreno, a folia de quem arrisca saltar fogueiras, adornar a noite no cheiro do alho-porro e sabor a sardinha assada. Em uníssono a música deambula rua a cima, rua abaixo. Ultrapassamos ano após ano a idade infinita da celebração

ainda em cena: recomendado

Chão Concreto apresenta NA SALA DO TEATRO LATINO 13 a 30 de Maio - Quarta a Domingo “Noites Brancas” encenação:Rodrigo Santos interpretação: Ivo Bastos, Nuno Preto 21h45m “O Negativo da Voz” encenação: Rodrigo Santos interpretação: Tânia Dinis 23h00m

do oriente

Vou pedir-lhe uma última vez, pare de me azucrinar a cabeça com esse maldito acordeão. Estamos no Metro, o som ressoa por tudo o que é sítio. Os passageiros não lhe ligam pevas e você insiste, como tivesse saído laureado do Conservatório de Música. A caixa de esmolas que a criancinha traz na mão continua vazia, o senhor nem por um momento hesita e pressiona com mais força as teclas do instrumento. Não tenho dúvidas, esta história vai acabar mal, para si e para quem o acompanha. Se quer que lhe diga, e já que não tem nada de melhor para fazer, podia dedicar-se a apreciar a grandiosidade da linha Vermelha, das monumentais Gares. Sabe, quando eu era miúdo os percursos do Metropolitano de Lisboa resumiam-se a um caminho em forma de Y. Como isto cresceu. Por mim passaram mais de vinte anos, tempo bem aproveitado para a retroescavadoras esventrarem a cidade de uma ponta a outra. Se algum dia eu imaginei poder vir passear a Marvila para ter betão e terra como paisagem?! Antigamente isto aqui

do antónio

Tem de reconhecer, meu velho, a sua figura cria uma certa repugnância a quem priva consigo. Parece-lhe normal que com sessenta anos se vista e comporte como uma senhora? Caramba, você ainda é casado, tem uma mulher a aquecer-lhe a cama, um filho malcriado, drogado ou pedinte, não interessa, que percorre Lisboa na pedincha de migalhas para uma dose. Bem sei que ganha para si, o suficiente para alimentar a boca da mãe, os vícios do filho, o almoço de domingo em família. Pense numa coisa, cantar à noite numa cave esconsa, repleta de homens salivantes, alheios à digna arte do playback, é tudo menos próprio para um si, homem de deus. Soraia, Soraia, eu não posso identificá-lo dessa forma, estamos num hospital público, não num circo de aberrações. Dê-me um nome próprio, apelido. Já me dou por satisfeito, senhor… vá, vá, pare com os enjoos, não me vomite a secretária, a medicação não o impele para tamanha fantochada, esses tremeliques são um truque fácil para se alhear da consulta. É a minha

do leste

Ficaste com um ares de desgraçada, nesse esgar de dor perpétua, sabias? Esqueces-te do que disse no nosso primeiro encontro, tu és bonita, bonita a valer. Teres-me preparado esta surpresa nem parece teu. Como pudeste tu andar tão animada por estes dias. Ontem, anteontem, antes e antes de ontem, não serei exagerado se afirmasse que no último mês da nossa vida tivesse deixado de ver essa tua expressão de felicidade, a contaminar toda a gente com histórias mirabolantes, plenas de tudo de bom que trazias contigo – até eu, que recuso estados de alegria inebriantes, me sentia diferente. Que gozo me deram aqueles passeios, da praia ao campo, sem itinerário definido. Aventura é aventura, Querido, se não gostas do imprevisto, habitua-te. E eu habituei-me. Em troca pedias-me que te falasse das serras, dos rios, do lugar, deste ou daquele escritor que por lá tinha passado. Se te fosse responder a tudo com seriedade e rigor, quase teria de transportar uma biblioteca itinerante na bagageira do ca

divulgação: workshop dramaturgia tribal II

Dramaturgia Tribal II - Laboratório de Exploração da Imaginação Simbólica - A Metamorfose com Jorge Palinhos 22, 23, 29 e 30 MAIO 14:30-19:30 (20 horas) Galeria de Paris Rua das Galerias de Paris, 56 - Porto Preço: 75€. Amigo Terra na Boca: 67,50€ Mínimo: 8 pessoas. Máximo: 16 A metamorfose é o princípio dinâmico da criação, que rege o nascimento e a morte, a máscara e a transformação. É, por isso, o conceito-central de grande parte dos mitos e também de grande parte das histórias que conhecemos e contamos. Após a boa recepção do primeiro workshop de Dramaturgia Tribal, propõe-se agora este laboratório que, partindo da exploração das imagens, símbolos, ritos e mitos que conhecemos, permitirá aos participantes desenvolver e aprofundar histórias em torno da ideia de transformação e auto-conhecimento.Os textos resultantes deste laboratório deverão ser transformados num espectáculo a apresentar até ao final do ano. Público-alvo: Estudantes e profissionais de teatro e todos os

da mexicana

Deixa-me que te diga, as almas penadas que trazes para casa contaminam o ar que partilhamos. Eu sei que a tua profissão passa por lidar com mortos, corpos deitados em marquesas, sem defesa possível perante a curiosidade do bisturi e da profundidade analítica da medicina legal. Não bastava termos um assassino na cidade a expandir o terror sobre quem sai à rua e chegas tu, leve e fresca ao fim do dia, no à vontade de um qualquer assunto corriqueiro, a falares-me de uma, duas, três mulheres feitas cadáver, dissecadas no teu laboratório. Do que morreram, como as mataram, a cor da pele ou o tom desmaiado dos lábios. Não quero saber, não quero mesmo. Sou um tipo sem pretensões a ser elevado a herói nacional, não pretendo entrar na cabeça desse maníaco que por um qualquer descontrole emocional mata dezenas de raparigas, agarrá-lo e entregar o espécime às autoridades. Por acaso vês-me como representante das forças de segurança? Protector de vítimas indefesas? Eu só te escuto, no limite, dou op

da resposta

A ilusão da infância, aí a vida é vivida em trânsito, nada conta como definitivo. Nem o dicionário menciona o termo… que estranho, depois os anos passam, de forma suave e enganadora. Olhamos para trás e nem uma cassete VHS desmente o passado. Por norma, achamos que não há nada a fazer no revolver do baú das recordações. Digo que andamos todos enganados, podemos mudar, acrescentar cortar a H-I-S-T-Ó-R-I-A. Afinal a escrita existe também para isso, aprender a re-contar é uma virtude.

da esgrima

Podias-me ter desferido o golpe de misericórdia, teria bastado esticares o braço, desembainhares o teu sabre e de um só golpe ter-me-ias visto cair aos teus pés, esvaído em sangue. Decepcionaste os transeuntes, aquela gente que de forma desatenta assistiu à nossa troca de olhares. Mereciam um espectáculo, a sério. Até posso concordar contigo que matar alguém por tão pouco implica uma condenação longa por detrás das grades, mas repara, eu abandonaria em definitivo a galeria dos teus pretensos namorados perfeitos, juntando-me à ala dos seres fantasmagóricos um dia caídos em desgraça.

da hera

Um fundo azulado, tranquilo, enquadram uma planta, aparentemente forte, plena de vitalidade a julgar pelo ramo. E no entanto ela espera, murcha ou envergonhada. A mão por debaixo, na esperança de uma cura, aguarda, quem sabe, amparar a queda das folhas sem vida, caducas, que renovarão a sede do rejuvenescimento, cíclico na natureza e bebido a cada instante por cada um de nós, mortais. Se no entanto nos contaminar o olhar da perspectiva do mal humano, tudo muda: a respiração ofegante da pobre criatura vegetal, enfrenta num rompante a gula perniciosa da extensão do braço humano. A nudez exposta dos rebentos, criaturas lactantes presas às ramificações de sua mãe, enfrentam expectantes a dor latente do colo alheio. E a desgraça submerge a cena. Não nos resta mais nada, senão o uivo perene da natureza em flor.

de pequenino

Ao contrário de outros, as minhas aulas de Educação Visual eram um pesadelo: o lápis impelia-me a encher a folha de cavalinho A4 de traços indefinidos, que só a muito custo, quiçá com a colaboração de um técnico de psicologia, se poderia aferir o significado. Na pintura não me saí melhor, a palete de cores primárias, sempre à espera do processo dinâmico de construção de ambientes mais e mais complexos, cedo se decepcionava com o Eu “artista” - angustiava-me não conseguir expressar-me na tela vazia, de encher o mundo, que para mim era só aquela sala repleta de aspirantes à arte futura. Confesso que escrever é para mim mais fácil, eu sei que as crianças começam por rabiscar no branco do papel, atabalhoadamente, sem desistir, a sua casa, a mãe, o pai, o irmão “mais” grande, o cão, o gato ou a galinha. A verdade é que desaprendi tudo isso. Logo que entrei para a escola, dediquei-me a desenhar letras como me tivessem a pedir para fazer um retrato. Ao longo dos anos, com o tique de apanh

do vulcão

Lamento saber que teve uma vida infeliz, senhora Valdete. Soube-o por si, e senti-me impotente para fazer qualquer coisa que fosse para alterar toda a sua tristeza, a raiva inerente ao seu discurso. Como pode alguém resistir tanto tempo à crueldade de um marido insensível ao amor do próximo e mesmo assim pensar que ainda quer ser feliz? O pulha castigava-a a si e ao menino pelo que me contou. Já não bastava entrar em casa com bafo a álcool, obrigá-la a pôr-se debaixo dele, contra vontade, e mesmo assim não deixava a pobre criança em paz. Fechar alguém num quarto escuro, empurrando até lá dentro aos berros é da tarimba dos verdugos. Fê-lo também consigo, quantas vezes? Um ror delas? Compreendo o sentimento de impontência. Nem aos animais ele perdoava. Quantos terá ele abatido só por não fazerem o que lhes mandava? Muitos, muitos. Outros morriam porque sim, eram rafeiros decrépitos encontrados no monte e só serviam para o abate. Para tornar o cenário mais negro, incinerava os cadáve

a testemunha

Peço-te que por agora não chores. O diagnóstico do médico não é assim tão mau. Escuta, a inflamação no ouvido é minha, não tua. Por que é que não apertaste a mão ao senhor doutor? Ele foi solícito comigo, atento. Deixar alguém de mão estendida é falta de educação. Pronto, eu cedo. Nas próximas semanas podes-me pôr as gotas, relembrar-me onde está o antibiótico, accionar o despertador para que a hora da medicação não fique esquecida. Sim, acordas comigo: vais encher o copo de água à cozinha e voltas para o meu lado. Tens razão, assim não preciso de me destapar, os meus pés não se arrepiam com o frio da tijoleira. Se o gato miar não te assustes, ele ainda não se habituou à tua presença, faz-lhe uma festa que ele volta a aninhar-se no sofá. Tranquilo. Quando eu ficar bom prometo sair mais contigo, dar um passeio grande, demoramos o tempo que quiseres. Podemos ir aquela praceta do outro dia – chovia, nós abrigámo-nos e comemos um éclair cada um. Mesmo assim o teu era maior do que o m

:2

Confiamos os dois. Prontos a correr alinhados desde o tiro de partida. A ideia de paixão nasce da fuga aos dias sós. É a alegria nas mortais palavras. Expande-se a promessa do amor, crença que perdura no melhor fim. Quero conhecer as marcas do teu corpo, liso ou rugoso, examinar-te a alma, fundir a felicidade que há em nós. Vou querer roubar-te para mim, viajar no silêncio para regressar mais tarde. Para assim ficarmos depois.

Música: concerto de Ana Deus, 6 de Março de 2010

6 Março 23:00 Villa Community Avenida dos Aliados, 66 - Porto Concerto Performativo para a comemoração de um ano de constituição da Associação Terra na Boca. DONA CHICA é uma senhora de idade, apreciadora de boa mesa, boa cama, belas festas e de música de dança. Os seus gostos e desejos para o "futuro" são revelados por cima de batidas fortes e rifs de guitarras roucas. "Eu que sou velha quero a coisa mais tenra do mundo..." canta ela em "Teoria dos contrastes". Na parede, em vídeo, projectam-se corpos dançantes, de idosos "gaiteiros", de todos os tempos. voz Ana Deus programações João Alves vídeo Sofia Lomba Preço 10€ * 15€ ** Inclui - Oferta de inscrição de Amigo Terra na Boca, no valor de 20€, para usufruir no primeiro quadrimestre ou como desconto na jóia anual (excepto nos espectáculos MALACORPO e Solo Lesson Show no Teatro Helena Sá e Costa); - Porto de Honra; - Sorteio de um Curso de Chacras. * Transferência bancária até 28 d

o mais feio de todos

Já perdi a conta às vezes que me aturaste. Em que ao ouvires a minha voz apagada disseste “isso não é nada, rapaz”. Do trabalho aos namoros, tenho dias que só me apetece mandar tudo à merda, família, amigos, tudo positivamente. É nessas ocasiões que qual messias, o telefone toca e lá vens tu com uma palavra ponderada, esclarecido como poucos, o homem que também puxa a minha carroça para a frente. Miguel, ainda te lembras do dia em que começámos a crescer juntos?, eu tenho isso bem presente: Era Julho, apareceste em Lisboa com o teu pai e ficaste lá em casa, mesmo depois dele ter regressado a Odemira, a partilhar as tuas férias comigo. Jogámos à bola juntos, andámos na rua a derrotar ao keips todos os ranhosos da Feliciano de Sousa (este gajo foi um sindicalista dos inícios do século XX, sabias?) e fomos de certeza à bola, ver o Atlético levar no pêlo - uns anos depois destes primeiros episódios, estivemos no velho estádio da luz a assistir a uma partida de futebol da Taça de Portugal

workshop Lúcia David à volta dos livros, na livraria Index

Este workshop é dirigido a alunos do ensino secundário e adultos com interesses em artes plásticas e tem como intenção uma primeira abordagem ao mundo de Bookarts (Livros de Artista). Pretende-se que os participantes, ao olhar para um livro, possam reconhecer e identificar os seus componentes, repensar os conteúdos, reconstruir a forma. DATAS 18 FEV – 5ª feira - 14:30 às 17:30. Público-alvo: adulto. Pagamento: 15 € por participante - a sessão realiza-se com um número minímo de 15 participantes. 19 FEV – 6ª feira SESSÃO – 10:00 às 13:00 e das 14:30 às 17:30. Público-alvo: adulto. Pagamento: 30 € por participante - a sessão realiza-se com um número minímo de 15 participantes. NOTA: A inscrição poderá ser realizada via correio ou correio electrónico. No dia 18 de Fevereiro de manhã realiza-se uma sessão para o público-escolar. Para mais informações, por favor, contactar: geral@indexlivraria.com

agridoce

Ainda respiras? Não te sinto a pulsação. Para mim é quase como se tivesses morrido. O teu corpo está frio. Que horror! não te sabes agasalhar antes de te deitares aqui comigo? Não sou nenhuma botija de água quente, rapariga. Ter de dormir com um cadáver (ausente) é algo desagradável. Nem o teu cheiro fica nos lençóis. Qualquer dia deita-se aqui outra moça, igualmente friorenta, que monopolize a roupa de cama e eu ficarei impotente para travar o súbito das nossas memórias. Prefiro que a minha futura seja carinhosa, tu eras brutinha, em vez de me amaciares a carne, tonificares a pele com meiguice, desatavas apelar ao repentismo da aeróbica e fazias de mim um joguete entre a cabeceira e os pés da cama. Bem podia espernear ou gemer aos teus ouvidos, que a menina nada de ser cooperante ou compreensiva. Um abuso. Deixei mesmo de nadar aos Sábados de manhã por tua causa: explica-me, onde e como poderia eu encontrar forças suficientes para vencer uma piscina olímpica depois de uma noite de pi

do pai

Pai, o que nós podíamos ter pescado, Pai. Aproveitar os Verões no Alentejo e pescar o tempo inteiro; o rio Mira, na Casa Branca puxava-nos. Era sairmos da casa da Avó, sozinhos, sem a Mãe, nem o Paulo - que já nem passava as férias connosco - e zarparmos. Estávamos só a 10 minutos de caminho, Pai. Tínhamos o carro às ordens, ninguém nos incomodava, e lá iríamos nos para o pontão do braço de rio. Por mim teria abdicado de todas as manhãs de praia: como eu detestava acordar ao som das mulheres da casa, vestir os calções de banho, uma t-shirt e por uns sapatos e ir para Milfontes, Pai. Eu era a única das crianças da casa a resmungar com toda aquela azafama, injusta e injustificada – o primo Miguel por vezes alinhava no boicote, mas só às vezes, e só uma gripe ou o nevoeiro de S. Luís impedia que gastássemos tanta gasolina e energia para estarmos à beira-mar. Tu, mesmo lá pescavas, sozinho, ias para as rochas, lembras-te? Sim, as rochas, as das praias das Furnas. Eu receava subir ao alto

divulgação: workshop dramaturgia tribal

Horário: 6 fevereiro 2010 às 14:30 a 14 fevereiro 2010 às 20:30 Local: ACE/Teatro do Bolhão Organizado por: Luciano José de Sousa Amarelo Descrição do evento: Dramaturgia Tribal - Workshop de exploração da imaginação simbólica com Jorge Palinhos. 14h30-19h30 (20 horas). ACE/Teatro do Bolhão, Praça Coronel Pacheco, 1. Valor: 75€. Valor Amigo Terra na Boca: 67,50€ Este workshop pretende explorar a escrita dramática através dos símbolos, dos ritos e dos mitos que regem invisivelmente a nossa vida. Com base em estudos mitológicos, antropológicos, semióticos e textuais, os participantes farão vários exercícios que lhes permitam mergulhar na sua mitologia pessoal e compreender quais as histórias que querem contar e o que é que as histórias significam para si. Público-alvo: estudantes e profissionais de teatro e todos os interessados em escrita criativa e dramática. Programa do curso 1.º dia – sábado, 6 de Fevereiro – 14h30-19h30 1) Apresentação/Aquecimento 2) Totem

andando (2/2)

E ali estávamos os três, reunidos para o habitual almoço evocativo, tensos, acossados, cada um circunscrito ao seu universo. Durante aquelas horas passou-me diversas vezes pela cabeça deixá-los à sua sorte de casal na terceira idade, fazer o saco e regressar ao meu apartamento, no centro da cidade. Mas não, entre a altivez do Pai, que de meia em meia hora, questionava a minha opção profissional – “Com que então senhor restaurador… senhor restaurador, de merda, só pode!”; “por isso é que não constituis família – uma namorada aqui, outra ali e pronto, nada de casamento ou filhos: para quê mudar de vida?”, “O teu irmão sim, era de medicina, um futuro Senhor Doutor…”. Ripostei: nunca o vi abdicar de algum do seu tempo, senhor meu pai, para de forma carinhosa e dedicada, olhar para mim e para o AS como seres autónomos, senhores da sua vontade. Sempre nas Urgências, Consultas fora de horas a vizinhos e conhecidos, estudioso de anatomia ou perspicaz investigador das mais recentes inovações fa

andando (1/2)

Agora que olho para trás, já só consigo relembrar aquele dia de Verão como algo distante, como se alguém me tivesse contado a história vivida por outrem. Posso-vos assegurar que estive lá, só não tenho é a noção da dor. O filho primogénito dos meus pais tinha morrido num infeliz acaso: para socorrer um amigo de infância da força das ondas, deixou-se levar pelo mar bravio, na praia a poucos passos da nossa casa. O corpo foi resgatado horas depois, na preia-mar, quase desfeito. Eles jamais recuperaram do choque e desde então passámos a fazer uma reunião de família para que a memória de AS fosse preservada, entre nós. Para mim, as recordações de AS eram meramente circunstâncias, se é verdade que nos deixávamos levar pelo entusiasmo das brincadeiras de rapazes, a diferença de idades, levou a que com o passar dos anos nos fossemos tornando estranhos um para o outro. A medicina fascinava-o, convicto das ideias do nosso Pai, AS dedicava-se com afinco à preparação dos exames escolares e a a

muito lá de casa

Acordei ao som de um barulho estranho, seco. A tua caixa, a tua caixa. Num impulso, saí do quarto mal desperto, num salto cheguei à sala. O gato, em plena acção, fazia deslizar pelo chão o precioso objecto. Eu, guardião improvável de memórias alheias: daquelas partilhadas em noites improváveis, perito em levantar nevoeiros em dias radiosos, barqueiro nas águas de fogo, estava derrotado. O jogo inocente de um felino (Felis silvestris catus) destruiu toda a poesia que um sonho pode conter. E nunca mais te vi.