tag:blogger.com,1999:blog-61698884877419082772024-02-08T15:13:25.923+00:00anjo ancoradonuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.comBlogger78125tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-1308825479005339162014-05-23T12:49:00.002+01:002014-05-23T12:49:30.554+01:00Domingo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<object width="320" height="266" class="BLOGGER-youtube-video" classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=6,0,40,0" data-thumbnail-src="https://ytimg.googleusercontent.com/vi/6favt-Sh-_E/0.jpg"><param name="movie" value="https://youtube.googleapis.com/v/6favt-Sh-_E&source=uds" /><param name="bgcolor" value="#FFFFFF" /><param name="allowFullScreen" value="true" /><embed width="320" height="266" src="https://youtube.googleapis.com/v/6favt-Sh-_E&source=uds" type="application/x-shockwave-flash" allowfullscreen="true"></embed></object></div>
nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-38611732872344840762011-10-06T10:41:00.002+01:002011-10-06T10:41:41.684+01:00dos traposQue desconforto! A dor de cabeça miudinha, deu lugar à estranheza e ao desespero. Ontem, foi domingo, certo? Hoje, segunda-feira… Muito bem, se assim é como é que explicam que aos 85 anos eu possa ter adormecido numa casa num dia e tenha acordado numa outra na manhã seguinte? Julgar-me-ia louca, não fora a dificuldade como caminho, mesmo num chão bem posto e macio como o do meu quarto, sala, cozinha e casa-de-banho. As obras custaram-me anos de reforma. O senhor Joaquim, um homem muito honesto e trabalhador que conheço desde moço, cumpriu tudo o que lhe pedi. Em poucos meses, quase sem dar por isso, pôs-me tudo novo: trocou o papel parede por tinta rosa velho, trocou o soalho por tacos envernizados cor de pinho, os móveis, esses, continuam os mesmos, sólidos, à antiga à portuguesa. Mas, como dizia, de um dia para o outro, sinto que não estou no sítio onde pertenço, mas longe da minha casa.<br />
<br />
É tudo tão diferente, tão pouco parecido com o que é meu, que não tenho dúvidas, eu não pertenço aqui. Tanta agitação, tanto cheiro a velho, a velhos como eu. <br />
A meio da noite acordei estremunhada com o murmúrio sumido de alguém por debaixo de lençóis e cobertores, numa cama desengonçada, que chiava tal a tremedeira do meu companheiro de quarto – companheiro de quarto? então que vem a ser isto, faça o favor de se calar, seja lá quem for… o pior veio depois, estava eu embalada para mais um farrapo de sono e ouço uma estridente campainha para lá da porta, passos apressados e de repente, entra apressadamente uma senhora vestida de bata branca (seria enfermeira?) no meu quarto. “Vá, abra a goela, abra… é um comprimidinho, só um, isso passa, tem de passar”. Nada, os gestos descontrolados deram lugar a espasmos, a impaciência da mulher transformou-se em histerismo e passado um tempo, que não sei precisar, tinha um grupo de gente ágil e decidida na acção, a rodearem o moribundo, a pô-lo numa marquesa e depressa dali para fora que o caso é urgente.<br />
A manhã corre lenta para uma cabeça à deriva como a minha, eu a velha do sono leve, sinto as horas a passar sem a mínima percepção do que me rodeia. <br />
Vejo gente? vejo. À minha frente há homens com cartas na mão, concentrados no gesto do parceiro, no destino posto na mesa de tabuleiro verde; à parte, ao fundo da sala, um grupo de mulheres, tricotam novelos furta-cores, de rosto fechado, quase sem levantar a cabeça das agulhas e da lã.<br />
Se a minha disposição fosse outra, até podia pensar juntar-me a uns ou a outros, nem que fosse para me distrair e matar o tempo.<br />
Assim, zonza e já com a barriga a pedir sustento, vou chamar alguém para me levar a casa – nova, arranjadinha e ao meu gosto.nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-1997046871262988602011-09-16T09:14:00.001+01:002019-01-24T15:43:49.643+00:00da via panorâmicaA nossa casa é linda. Repara como aqui apertadinhos estamos tão bem um para o outro. Aqui tudo é teu e meu; nosso, nosso, quero eu dizer! Deixa-me ver, temos o lençol, este saco-cama velho e sujo, a roupa que trazemos no corpo e pronto. De resto nada, de mais nada. <br />
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Estendidos na relva, de papo para o ar, nem as paredes de uma velha casa em ruínas nos separam do trânsito e das pessoas. Por vezes, pelos menos para mim, o dia custa a passar: levantar-me todos os dias, percorrer um par de metros, parar em frente ao centro comercial e implorar pela misericórdia de quem entra e sai das lojas; cansa-me. De segunda a domingo – sempre, sempre na iminência de nem uma migalha ter para partilhar contigo – deixa-me triste, muito mesmo. Desculpa.<br />
<br />
Sabes bem que o que nos faz andar nisto é o vício, a dependência de umas gramas de pó, para mim e para ti, em comunhão. Podíamos pensar em trabalhar como todos eles. Sim, a tempo inteiro, a fazer qualquer coisa. Vejo-me até a lavar escadas, a limpar a casa das senhoras ricas ou com a mania de que o são. Sei que não concordas comigo, raramente concordas; quando me ponho a imaginar uma vida normal mandas-me calar, puxas-me para ti e abafas-me contra o teu peito. Eu sou uma lingrinhas, e já só tenho pele e osso. Tu continuas alto e bonito, ainda emanas um certo ar de atleta, surfista talvez. Querido, escuta, eu não o digo por mal, mas se ao menos também me ajudasses a recolher umas moedas em vez de me ficares a controlar ao longe, a rezingar por eu não fazer mais dinheiro… qualquer dia, quando as pessoas deste bairro, deste <i>shopping</i> se cansarem da minha cara morena e com as pústulas a permanecerem semanas a fio, pões-me numa esquina, numa rua, num beco, à espera de quem passa. Depois, como sempre, hás-de exigir que te renda uns trocos, os suficientes para matar a fome das veias.<br />
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Não é querer ser desmancha-prazeres, mas esta casa precisa de levar uma volta.nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-70478220681256096752011-05-27T12:25:00.006+01:002011-06-07T17:16:37.117+01:00da frieza“Eu não vou morrer”.<br />
A esta distância, a frase soa estranha na minha cabeça. Claro que tu irias morrer – tu, eu, qualquer pessoa que habita este mundo, mais cedo ou mais tarde morre.<br />
A tua decepção é a tragédia de qualquer ser humano ao longo de uma vida e, deixa-me que te diga, agora que me escutas de pálpebras cerradas, pôr uma corda ao pescoço não resolveu nada da existência de quem te rodeia. Senão vejamos: tu sempre foste um rufia de bairro desde miúdo, a entrar à bruta nas brincadeiras de quem não te queria por perto, a comer fora de horas, sempre a berrares com uma tia que te criou na imundice e no cheiro a podre que a tua roupa emanava. Peixe, tu cheiravas a peixe, era por isso que todos nós, ainda miúdos, te chamávamos assim. Não prestavas para nada, nem para jogar à bola, nem na cumplicidade de uma conversa inocente, nada. Depois, sabe deus como, namoraste uma rapariga que era uma amostra de gente, fraca de cabeça, viciada como tu na ignorância e no álcool e nos cigarros. Casaram. <br />
Uns anos mais tarde, já tu amanhavas motas e automóveis à porta de casa, a mesma onde foste criado, e lá te tornaste pai. Que comovente, a irresponsabilidade de dois pobretanas não tem limites. Um, dois, três, quatro. Ena, tantos inocentes dados ao mundo.<br />
As contas lá te pesavam nos dias, cada vez mais, a esposa sem fazer a ponta de um chavo, tu alapado à porta de casa a fazer roncar os motores condenados e na maior parte do tempo a coçar a barriga; os putos rua acima, rua abaixo, andrajosos, apatetados, ruins como aprendizes do demo. Assim a história não podia acabar bem, nada bem mesmo. Discussões com a mulher, um copo aqui, um charro acolá e pronto, começaste a cavar o teu fim antecipado.<br />
Já sozinho aguentaste um par de meses sem ires ao tapete. Depois, foi tudo muito rápido, uma crise de raiva, um lar virado do avesso, o choro imparável dos putos e toca de fazer a primeira tentativa de suicídio. A conversa fiada dos psiquiatras deixou-te atónito, tanta palavra cara para descrever uma depressão, tanto medicamento para ganhar pó na mesinha de cabeceira, tanto recurso desperdiçado num bandido, digo eu.<br />
Objectivo atingido, um mês passado estavas tu a saltar para cima de um banco, a enlaçares-te na corda passada em volta do candeeiro e a esfumares-te duma rua que nunca te olhou nos olhos.<br />
Arrisco-me a dizer que a fatiota que levas para o esquife valerá mais do que o preço da tua alma. Mas é só uma opinião, não me leves a mal.nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-4361747029156820802011-02-25T13:37:00.000+00:002011-02-25T13:37:19.853+00:00da fuga“Dá-te ao trabalho de ignorar a tristeza dos teus”<br />
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Disse-o e saí, porta fora, sem demonstrar o mínimo gesto de arrependimento. O eco da porta ressoou pelas escadas até sorver os primeiros ruídos da rua. Depois, meio desorientado, com os ossos massacrados pela noite mal dormida, dirigi-me cambaleante para a paragem do metro, daí para a sala de espera da gare dos comboios, fixando o meu poiso ao balcão do bar da estação. Devo ter passado muitas horas em monólogo, de mim para mim, entre a voz da emoção e a voz da razão. Conclusões nenhumas, estaria ali o tempo necessário para decidir a minha vida.<br />
Minuto após minuto, o empregado do balcão investia em tentativas sucessivas para que eu consumisse qualquer coisa. <br />
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“Por acaso não quer que lhe sirva uma água com gás, uma sandes para encher o estômago ou uma peça de fruta?”<br />
<br />
“Ó homem, desapareça.”<br />
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Focava de novo a atenção nas mesas cada vez mais cheias de gente apressada e barulhenta e esquecia-se de mim.<br />
Não sei quantas horas ali estive, alheio ao movimento dos passageiros, às movimentações de cargas e descargas das locomotivas. Adormeci.<br />
Já noite, com o frio a tomar conta do corpo, despertei num repente, estendido sob o assento duro de plástico no resguardo da plataforma, com o Segurança à ilharga.<br />
<br />
“Chefe, faça-se ao caminho que o seu destino não é aqui.”nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-157633647841370432011-02-24T12:11:00.002+00:002011-02-24T12:17:06.916+00:00da boavistaPrometi a mim mesma não te voltar a escrever. Cansei-me de esperar por isso, de estar sentada aqui no sofá, com as mãos pousadas em cima dos joelhos, a olhar a porta na ânsia de que a campainha toque por uma ocasião.<br />
<br />
Não te vou chamar. Conseguirei conter o impulso de ir à gaveta da cómoda pegar numa folha em branco e dizer-te, vem, vem que eu cá estou.<br />
As minhas cartas fazem de uma só viagem meio Portugal só para te darem a salvação, um mimo, para que semana após semana te sintas reconfortado com uma palavra amiga, desta que te ama. Não é em vão que vivemos o que vivemos, entre abraços e beijinhos, ao princípio tímidos, depois mais longos e convictos. Tu na minha festa de debutante foste-te aproximando de mansinho ao longo da noite, primeiro, entabulando conversa com os casais de meia-idade, para depois lançares os teus olhos verde-cinza sobre as meninas. Éramos cinco ou seis, nem todas descomprometidas. Foi com certeza a tua voz colocada de locutor da rádio que me fez encarar-te com a curiosidade própria de quem quer conhecer.<br />
Tão depressa se passou a noite, eu e tu resistentes quase até ao fim, sentados lado a lado, na conversa sem destino traçado, ao som de coisa nenhuma. Só nós.<br />
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Sabes bem o que quero de ti. Pega na trouxa, chega-te a mim.nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-89498041134484093082011-02-23T18:11:00.000+00:002011-02-23T18:11:08.242+00:00da cabeceiraQuando parar de tremelicar talvez o possa ajudar. Sossegue, tente controlar a respiração, vá, conte 1, 2, 3, isso, devagar, vê como consegue. Calma, tente levantar-se devagar, sem movimentos bruscos; os seus músculos estão demasiado tensos, sem forçar, olhe que além da dor psicológica que o apoquenta ainda fica para aí todo torcido. Mas você está todo transpirado, homem, tem essa cama num caos, os lençóis rasgados de uma ponta a outra, os cobertores espalhados pelo chão, ó valha-me deus.<br />
<br />
<br />
Ouça, esteja à vontade. Fale do que quiser, eu estou aqui para isso mesmo. Teve algum ataque de raiva durante a noite? Não?! E pânico sentiu? Também não?! Bom, mas não descansou… Ah sim, a cabeça pôs-se a trabalhar… e? O coração bombeava o sangue à velocidade da luz (Essa nunca tinha ouvido…). Vozes, deu conta de vozes estranhas a querem conduzir os seus movimentos… Hum, e isto tudo medicado?! Os meus colegas acompanharam-no desde o início… Bem.<br />
<br />
Se eu lhe pedir para caminhar da cama até à janela, consegue?! Sente as pernas firmes, segura nos passos. A cabeça, pesa-lhe demasiado? Não?! Excelente! E lá fora, descreva-me o que vê. Sim, tem as árvores, as grandes são os plátanos, Sim, tem as plantinhas amarelas chamadas mimosas, Continue… Como? Nos troncos há folhas escritas? Estranho… Consegue descortinar a mensagens? É uma mensagem, uma única mensagem, diz você, está muito bem. Morrer, morrer… Você vai morrer? Acredita então que a flora o está a avisar de que vai morrer, é isso? Bom, morrer, todos morremos um dia, estando a atravessar uma fase mais feliz ou mais triste. A felicidade, comprovadamente, estende-nos a esperança de vida, os mais felizes viverão mais tempo, sim. Mas sabe, caríssimo, não é por estar aqui internado, enfiado dentro de quatro paredes, sem direito a visitas por uns dias, que vai passar para a classe dos vencidos da vida. Um par de meses e há-de recuperar a compostura, o ânimo, claro, o mais importante, a esperança, a esperança em si mesmo. Olhe que entre a sua condição e a minha não existe grande diferença, para lá da óbvia bata branca e da condição de médico versus paciente. Se eu estivesse no papel que aqui o trouxe, é provável que ficasse surpreendido com aquilo que trago para contar.nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-32802399322620567232011-02-22T16:22:00.004+00:002011-02-22T16:31:43.353+00:00metáfora como ilusãoQue bonito seria para mim poder ver aquele casal de velhos de mão dada na Praça, sentados no banco de jardim, sem nada os perturbar. É certo que nem sempre estavam sóbrios, de cabeça limpa, bem vestidos e de banho tomado. Claro que não. Demasiadas vezes chegavam a cambalear, com vestes andrajosas e com um desmesurado cheiro a álcool que, Deus meu, só lhes saíam da boca pequenos murmúrios ditos sem o mínimo sentido. Ainda assim, continuava a ver nas suas expressões uma cumplicidade própria de quem conhece bem o outro sem ter de recorrer a discursos inesgotáveis ou a repetidas provas de amor. Companheiros de desgraça, infortúnio ou de vício, dirão alguns. Nada disso, aquela gente vivia o seu dia-a-dia com a única ideia de que para eles fazia sentido sobreviver. Fosse com uma cerveja ou um pacote de vinho tinto roubado no supermercado, fosse recolhendo as migalhas de pão com milho atiradas aos pombos, os infelizes partilhavam a alegria de um pequeno momento de glória.<br />
<br />
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Por ninguém ser eterno, um deles desapareceu, ela, para ser específico. De tantos tombos ao chão, de tanta bebida sorvida sem inclemência, o corpo desfez-se em pedaços ínfimos. Nos últimos meses de vida, dorida na degradação física, procurava nas urgências do hospital o caldo milagroso para a veia intacta que lhe devolvesse por mais um par de horas a clarividência necessária para encontrar o caminho de volta ao companheiro, o vinho ou à cerveja do mata-bicho, o impulso de encher o estômago com um farelo qualquer.<br />
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Por certo morreu acompanhada. De mão dada com quem sempre lhe escutou os lamentos ou as ambições (se é que as teve). <br />
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Ele agora está mais só.nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-46116900232605199932011-02-21T17:31:00.001+00:002011-02-21T17:31:56.567+00:00entre irmãosBruto, estúpido, cabrão de merda!<br />
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As tuas mãos no meu pescoço quase que me estrangulavam. Senti-me com falta de ar, comecei a ficar primeiro vermelho, depois quase roxo e tu rias ininterruptamente, sem piedade nem comiseração pelo teu irmão mais novo.<br />
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Se fui apanhado no parque de ténis a roubar bolas foi por tua culpa! Tu e os teus amigos é que queriam encher sacos e sacos delas. Novinhas em folha, daquelas ainda com muito pêlo, macias ao toque, duras e saltitonas. Não que saibam jogar alguma coisa de jeito. Vocês são fracotes, azelhas mesmo, mal conseguem fazer passar a bola de um lado para outro da rede mais do que duas vezes seguidas. Querem exibir-se para as miúdas, mostrarem o quanto são fortes, dignos de admiração e cobiça. Parvos, vocês são uns parvos, ouve o que te digo. Eu já me consegui aproximar do grupo das miúdas, escutei-lhes os desejos e sabes que mais, para elas tu e os teus amigos não passam daqueles gelados de Verão, daqueles que se compram só por não se ter dinheiro para mais e que depois de uma ou duas lambidelas se atiram ao lixo sem deixar saudades. Mal acabem as férias grandes lá vão os valentões carpir as lágrimas das amadas ingratas, que não atendendo à força incontrolada de quem se quer fazer homem antes da idade na grande cidade, rei do bairro. Partem sem olhar para trás, fiéis as suas aldeias no interior, de mão dada com os progenitores, sem sequer virarem a cara para murmurarem “até breve”.<br />
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Digo-te mais, os pais quando mais logo chegarem a casa hão-de desfazer-te em pedaços, a minha nódoa negra vai ganhar contornos de crime, ficará dias a anunciar ao mundo a tua insensibilidade, animal. <br />
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Estás tramado.nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-15720815986820734422010-12-10T10:11:00.000+00:002010-12-10T10:11:02.884+00:00da weasel 1993-2010<object height="385" width="480"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/pHHvPKp5k9Q?fs=1&hl=pt_BR"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/pHHvPKp5k9Q?fs=1&hl=pt_BR" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="480" height="385"></embed></object>nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-11062786349817154282010-09-14T12:26:00.002+01:002010-09-14T12:26:49.134+01:00de regresso, com uma canção<object height="385" width="640"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/ITS8pxcpGAQ?fs=1&hl=pt_BR"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/ITS8pxcpGAQ?fs=1&hl=pt_BR" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="640" height="385"></embed></object>nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-36876524256606897112010-06-29T14:52:00.002+01:002010-06-29T14:52:59.477+01:00até breve: regresso em setembro<object height="385" width="640"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/gGdGFtwCNBE&hl=pt_BR&fs=1&"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/gGdGFtwCNBE&hl=pt_BR&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="640" height="385"></embed></object>nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-41527030274972035092010-06-15T19:09:00.000+01:002010-06-15T19:09:45.138+01:00divulgação: leitura encenada Mistero Buffo (excertos) de Dario FoCONTAGIARTE<br />
Rua Álvares Cabral, 372 - Porto<br />
<br />
quinta-feira, 17 de Junho de 2010<br />
22:30 - 23:00<br />
<br />
<br />
Continuando o ciclo dedicado à exploração performativa das palavras -<br />
Ar das Palavras - e no âmbito do ciclo Dário Fo que Terra na Boca<br />
organiza no decurso de 2010, apresentamos agora uma obra-prima deste<br />
nobel da literatura: Mistero Buffo.<br />
Estreado em 1969 em formato de monólogo/contador de histórias, e logo<br />
alvo de polémica, Mistero Buffo é uma colectânea de narrativas,<br />
meditações, anedotas e comentários de inspiração medieval italiana,<br />
mas que o narrador/actor/encenador usa para reflectir a nossa<br />
realidade social e pessoal, por vezes de forma comovente, por vezes de<br />
forma divertida.<br />
<br />
tradução e adaptação de Jorge Palinhos, direcção de Vanessa Martins,<br />
interpretação de Luciano Amarelo, Pedro J. Ribeiro e Vanessa Martins.nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-20672129117926358522010-06-14T18:06:00.002+01:002010-06-14T18:06:16.274+01:00da festividadeDeram-nos por baptismo o nome de João.<br />
Eu, cresci nas ermas terras do Norte de Portugal, há muitos séculos<br />
atrás; ele, cavalgou por terras longínquas, daquelas que nunca a<br />
minha vista alcançou.<br />
Fui um ser modesto, ajudei quem pude, como sabia, trabalhando nas<br />
colheitas, amassando pão, apregoando bons conselhos a gente simples;<br />
ele, calejado em retórica, afrontou o poder instituído. Herodes<br />
tomou-o por inimigo, combateu-o no deserto, venerou-o no esquecimento.<br />
Não lamento ter morrido eremita, longe de todos, deixado à minha<br />
sorte, bebendo o eterno sono dos justos; ele, caiu às mãos de um rei<br />
sequioso de sangue, guerreiro vingativo de uma filha caprichosa.<br />
Partilhamos por uma noite de Junho a alegria do Porto, em festa. Dois<br />
homens num mesmo corpo terreno, a folia de quem arrisca saltar<br />
fogueiras, adornar a noite no cheiro do alho-porro e sabor a sardinha<br />
assada. Em uníssono a música deambula rua a cima, rua abaixo.<br />
Ultrapassamos ano após ano a idade infinita da celebração, relembrando<br />
um ao outro o destino que nos uniu.nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-72480091566626302782010-05-27T17:56:00.002+01:002010-05-27T17:56:59.724+01:00regresso a 14 de Junho<object width="640" height="385"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/tjecYugTbIQ&hl=pt_BR&fs=1&"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/tjecYugTbIQ&hl=pt_BR&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="640" height="385"></embed></object>nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-76367386117776590802010-05-25T15:54:00.000+01:002010-05-25T15:54:47.306+01:00ainda em cena: recomendadoChão Concreto<br />
apresenta<br />
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NA SALA DO TEATRO LATINO<br />
13 a 30 de Maio - Quarta a Domingo<br />
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“Noites Brancas”<br />
encenação:Rodrigo Santos<br />
<br />
interpretação: Ivo Bastos, Nuno Preto<br />
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21h45m<br />
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“O Negativo da Voz”<br />
encenação: Rodrigo Santos<br />
<br />
interpretação: Tânia Dinis<br />
<br />
23h00mnuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-88456481394615119042010-05-24T18:03:00.001+01:002010-05-24T18:18:59.911+01:00do orienteVou pedir-lhe uma última vez, pare de me azucrinar a cabeça com esse maldito acordeão. Estamos no Metro, o som ressoa por tudo o que é sítio. Os passageiros não lhe ligam pevas e você insiste, como tivesse saído laureado do Conservatório de Música. A caixa de esmolas que a criancinha traz na mão continua vazia, o senhor nem por um momento hesita e pressiona com mais força as teclas do instrumento. Não tenho dúvidas, esta história vai acabar mal, para si e para quem o acompanha. Se quer que lhe diga, e já que não tem nada de melhor para fazer, podia dedicar-se a apreciar a grandiosidade da linha Vermelha, das monumentais Gares. Sabe, quando eu era miúdo os percursos do Metropolitano de Lisboa resumiam-se a um caminho em forma de Y. Como isto cresceu. Por mim passaram mais de vinte anos, tempo bem aproveitado para a retroescavadoras esventrarem a cidade de uma ponta a outra. Se algum dia eu imaginei poder vir passear a Marvila para ter betão e terra como paisagem?! Antigamente isto aqui era só armazéns, máquinas de extracção de areia e sucata sem dono. Bom para jogar à bola era ali a caminho de Belém, por detrás da Rua da Junqueira, num cantinho de erva verde, por debaixo dos pilares da Ponte 25 de Abril. Agora já ninguém se atreve a fazer o mesmo – levantaram lá uns prédios de luxos do arquitecto Valssassina: acabou-se o jogo, os miúdos e as tardes quentes de papo para o ar.<br />
<br />
Os bolsos de fora ainda sem um tostão, meia dúzia de carruagens percorridas, sem quebrar. E já estamos a chegar ao terminal ferroviário. O senhor não se cala.<br />
Arrepiante, seria se ali para Chelas tivesse havido festa da grossa: um grupinho de rufias por aqui adentro, carteiras dos senhores passageiros para cá, sem choro fingido, e dá cá as moedinhas, ó animador de subterrâneos. Felizmente para todos, é pouco provável que haja surpresas desagradáveis nas duas paragens que restam. A mim espera-me uma tarde de compras, um passeio pela beira Tejo e um sumo de fruta para refrescar. Quanto a si, não sei, mas talvez o silêncio lhe viesse a calhar.nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-52358188715308887072010-05-21T16:21:00.001+01:002010-05-21T18:04:41.479+01:00nacional (dos estados-unidos)<object width="480" height="385"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/u5C2WVCruPM&hl=pt_BR&fs=1&"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/u5C2WVCruPM&hl=pt_BR&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="480" height="385"></embed></object>nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-58505610800935302932010-05-17T18:54:00.000+01:002010-05-17T18:54:06.400+01:00do antónioTem de reconhecer, meu velho, a sua figura cria uma certa repugnância a quem priva consigo. Parece-lhe normal que com sessenta anos se vista e comporte como uma senhora? Caramba, você ainda é casado, tem uma mulher a aquecer-lhe a cama, um filho malcriado, drogado ou pedinte, não interessa, que percorre Lisboa na pedincha de migalhas para uma dose. Bem sei que ganha para si, o suficiente para alimentar a boca da mãe, os vícios do filho, o almoço de domingo em família. Pense numa coisa, cantar à noite numa cave esconsa, repleta de homens salivantes, alheios à digna arte do playback, é tudo menos próprio para um si, homem de deus.<br />
Soraia, Soraia, eu não posso identificá-lo dessa forma, estamos num hospital público, não num circo de aberrações. Dê-me um nome próprio, apelido. Já me dou por satisfeito, senhor… vá, vá, pare com os enjoos, não me vomite a secretária, a medicação não o impele para tamanha fantochada, esses tremeliques são um truque fácil para se alhear da consulta. É a minha bata branca que o assusta? A sério, deixe-se de coisas, o fumo do meu cigarro nem sequer está a ir na sua direcção. Nunca nenhum paciente me pediu para me abster de puxar umas quantas baforadas.<br />
Sente-se. Conte-me, por que é que começou a comportar-se como esposa da sua esposa…. Pode alguém despertar assim tão tarde para essa estranha forma de vida? Quer dizer, trabalha anos a fio como serralheiro, um lindo dia acorda virado do avesso e pronto: transformista dos pés à cabeça, guarda-roupa próprio, lábios delineados a silicone, sem se questionar? Um trabalho decente pelo cano abaixo e vamos lá passar as noites a encarnar as Madonnas ou a Tina Turners deste mundo… Uma má disposição que começa a vir estômago acima, tolda-lhe o pensamento e olha lá que há Soraia desperta em mim?nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-42914562237260976302010-05-10T14:17:00.002+01:002010-05-10T14:17:13.585+01:00do lesteFicaste com um ares de desgraçada, nesse esgar de dor perpétua, sabias? <br />
Esqueces-te do que disse no nosso primeiro encontro, tu és bonita, bonita a valer. Teres-me preparado esta surpresa nem parece teu. Como pudeste tu andar tão animada por estes dias. Ontem, anteontem, antes e antes de ontem, não serei exagerado se afirmasse que no último mês da nossa vida tivesse deixado de ver essa tua expressão de felicidade, a contaminar toda a gente com histórias mirabolantes, plenas de tudo de bom que trazias contigo – até eu, que recuso estados de alegria inebriantes, me sentia diferente. <br />
Que gozo me deram aqueles passeios, da praia ao campo, sem itinerário definido. Aventura é aventura, Querido, se não gostas do imprevisto, habitua-te. E eu habituei-me. Em troca pedias-me que te falasse das serras, dos rios, do lugar, deste ou daquele escritor que por lá tinha passado. Se te fosse responder a tudo com seriedade e rigor, quase teria de transportar uma biblioteca itinerante na bagageira do carro. Enquanto não me mandavas calar, eu inventava, inventava mesmo muito, pormenores, características… tanta coisa; desde que tu te levasses pela narrativa. São inumeráveis as vezes que adormeceste colada a mim: a culpa é da tua voz suave, bem colocada, com timbre de embalar criancinhas e raparigas incautas como eu, atiravas divertida. E como aprendias depressa os disparates que te transmitia, não me lembro de uma única ocasião que ao repetirmos o passeio, não tenhas desfiado todo o meu guião de circunstância. Imitavas a cadência das palavras, carregavas no tom de voz feito homem e pronto, e prosseguias sem pausas. Estavas nas tuas sete quintas. O início como o fim pautado por uma sonora gargalhada.<br />
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É com o coração destroçado que te acuso. Porquê isto? Porquê assim sem pré-aviso? O voo janela fora que arriscaste jamais poderia contrariar a lei da gravidade. Nunca houve ninguém, em lugar nenhum, que saísse vivo desse raro impulso de libertação extrema. Foste egoísta demais. <br />
No mínimo esperava uma longa e singular carta de amor, a servir de alerta. Nada de nada, nem mesmo o desafio: Depois vai lá ter comigo, Amor. Sem pressa!nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-74840883956094790362010-05-04T17:58:00.000+01:002010-05-04T17:58:26.169+01:00não caias<object width="480" height="385"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/iaOU7ApkMns&hl=pt_BR&fs=1&"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/iaOU7ApkMns&hl=pt_BR&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="480" height="385"></embed></object>nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-21873435136866030222010-05-04T14:53:00.000+01:002010-05-04T14:53:09.430+01:00blog do diahttp://tempocontado.blogspot.com/nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-11143281506116943122010-05-04T14:49:00.000+01:002010-05-04T14:49:22.712+01:00divulgação: workshop dramaturgia tribal IIDramaturgia Tribal II - Laboratório de Exploração da Imaginação Simbólica - A Metamorfose com Jorge Palinhos<br />
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22, 23, 29 e 30 MAIO<br />
14:30-19:30 (20 horas)<br />
Galeria de Paris<br />
Rua das Galerias de Paris, 56 - Porto<br />
Preço: 75€. Amigo Terra na Boca: 67,50€<br />
Mínimo: 8 pessoas. Máximo: 16<br />
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A metamorfose é o princípio dinâmico da criação, que rege o nascimento e a morte, a máscara e a transformação. É, por isso, o conceito-central de grande parte dos mitos e também de grande parte das histórias que conhecemos e contamos. Após a boa recepção do primeiro workshop de Dramaturgia Tribal, propõe-se agora este laboratório que, partindo da exploração das imagens, símbolos, ritos e mitos que conhecemos, permitirá aos participantes desenvolver e aprofundar histórias em torno da ideia de transformação e auto-conhecimento.Os textos resultantes deste laboratório deverão ser transformados num espectáculo a apresentar até ao final do ano.<br />
<br />
Público-alvo: Estudantes e profissionais de teatro e todos os interessados em escrita criativa e dramática.<br />
<br />
Nota: Os candidatos deverão trazer um texto seu, narrativo ou dramático, para ser alvo de trabalho durante o laboratório<br />
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Inscrição até 16 MAIO <br />
mais informações, aqui: <br />
http://terranaboca-associaocultural.blogspot.com/nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-4672124499094261082010-05-03T14:19:00.000+01:002010-05-03T14:19:08.069+01:00da mexicanaDeixa-me que te diga, as almas penadas que trazes para casa contaminam o ar que partilhamos. Eu sei que a tua profissão passa por lidar com mortos, corpos deitados em marquesas, sem defesa possível perante a curiosidade do bisturi e da profundidade analítica da medicina legal. Não bastava termos um assassino na cidade a expandir o terror sobre quem sai à rua e chegas tu, leve e fresca ao fim do dia, no à vontade de um qualquer assunto corriqueiro, a falares-me de uma, duas, três mulheres feitas cadáver, dissecadas no teu laboratório. Do que morreram, como as mataram, a cor da pele ou o tom desmaiado dos lábios. Não quero saber, não quero mesmo. Sou um tipo sem pretensões a ser elevado a herói nacional, não pretendo entrar na cabeça desse maníaco que por um qualquer descontrole emocional mata dezenas de raparigas, agarrá-lo e entregar o espécime às autoridades. Por acaso vês-me como representante das forças de segurança? Protector de vítimas indefesas? Eu só te escuto, no limite, dou opinião sobre os relatórios técnicos prévios que me apresentas. Estou farto de tantas descrições mórbidas, de que todas elas podiam estar a viver a sua vida, o seu emprego, a sua família.<br />
<br />
Desiste de me arrastar para a agonia da apresentação formal aos que já não habitam o mundo dos vivos. Pára de derramar o sangue dos espectros no chão da nossa casa.nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6169888487741908277.post-10503036488780964032010-04-26T15:28:00.002+01:002010-04-26T15:28:19.913+01:00da respostaA ilusão da infância, aí a vida é vivida em trânsito, nada conta como definitivo. Nem o dicionário menciona o termo… que estranho, depois os anos passam, de forma suave e enganadora. Olhamos para trás e nem uma cassete VHS desmente o passado. Por norma, achamos que não há nada a fazer no revolver do baú das recordações. Digo que andamos todos enganados, podemos mudar, acrescentar cortar a H-I-S-T-Ó-R-I-A. Afinal a escrita existe também para isso, aprender a re-contar é uma virtude.nuno guerreirohttp://www.blogger.com/profile/13087016163142579570noreply@blogger.com0