Avançar para o conteúdo principal

da fuga

“Dá-te ao trabalho de ignorar a tristeza dos teus”


Disse-o e saí, porta fora, sem demonstrar o mínimo gesto de arrependimento. O eco da porta ressoou pelas escadas até sorver os primeiros ruídos da rua. Depois, meio desorientado, com os ossos massacrados pela noite mal dormida, dirigi-me cambaleante para a paragem do metro, daí para a sala de espera da gare dos comboios, fixando o meu poiso ao balcão do bar da estação. Devo ter passado muitas horas em monólogo, de mim para mim, entre a voz da emoção e a voz da razão. Conclusões nenhumas, estaria ali o tempo necessário para decidir a minha vida.
Minuto após minuto, o empregado do balcão investia em tentativas sucessivas para que eu consumisse qualquer coisa.

“Por acaso não quer que lhe sirva uma água com gás, uma sandes para encher o estômago ou uma peça de fruta?”

“Ó homem, desapareça.”

Focava de novo a atenção nas mesas cada vez mais cheias de gente apressada e barulhenta e esquecia-se de mim.
Não sei quantas horas ali estive, alheio ao movimento dos passageiros, às movimentações de cargas e descargas das locomotivas. Adormeci.
Já noite, com o frio a tomar conta do corpo, despertei num repente, estendido sob o assento duro de plástico no resguardo da plataforma, com o Segurança à ilharga.

“Chefe, faça-se ao caminho que o seu destino não é aqui.”

Comentários

Mensagens populares deste blogue

divulgação: workshop dramaturgia tribal II

Dramaturgia Tribal II - Laboratório de Exploração da Imaginação Simbólica - A Metamorfose com Jorge Palinhos 22, 23, 29 e 30 MAIO 14:30-19:30 (20 horas) Galeria de Paris Rua das Galerias de Paris, 56 - Porto Preço: 75€. Amigo Terra na Boca: 67,50€ Mínimo: 8 pessoas. Máximo: 16 A metamorfose é o princípio dinâmico da criação, que rege o nascimento e a morte, a máscara e a transformação. É, por isso, o conceito-central de grande parte dos mitos e também de grande parte das histórias que conhecemos e contamos. Após a boa recepção do primeiro workshop de Dramaturgia Tribal, propõe-se agora este laboratório que, partindo da exploração das imagens, símbolos, ritos e mitos que conhecemos, permitirá aos participantes desenvolver e aprofundar histórias em torno da ideia de transformação e auto-conhecimento.Os textos resultantes deste laboratório deverão ser transformados num espectáculo a apresentar até ao final do ano. Público-alvo: Estudantes e profissionais de teatro e todos os

de pequenino

Ao contrário de outros, as minhas aulas de Educação Visual eram um pesadelo: o lápis impelia-me a encher a folha de cavalinho A4 de traços indefinidos, que só a muito custo, quiçá com a colaboração de um técnico de psicologia, se poderia aferir o significado. Na pintura não me saí melhor, a palete de cores primárias, sempre à espera do processo dinâmico de construção de ambientes mais e mais complexos, cedo se decepcionava com o Eu “artista” - angustiava-me não conseguir expressar-me na tela vazia, de encher o mundo, que para mim era só aquela sala repleta de aspirantes à arte futura. Confesso que escrever é para mim mais fácil, eu sei que as crianças começam por rabiscar no branco do papel, atabalhoadamente, sem desistir, a sua casa, a mãe, o pai, o irmão “mais” grande, o cão, o gato ou a galinha. A verdade é que desaprendi tudo isso. Logo que entrei para a escola, dediquei-me a desenhar letras como me tivessem a pedir para fazer um retrato. Ao longo dos anos, com o tique de apanh