A ilusão da infância, aí a vida é vivida em trânsito, nada conta como definitivo. Nem o dicionário menciona o termo… que estranho, depois os anos passam, de forma suave e enganadora. Olhamos para trás e nem uma cassete VHS desmente o passado. Por norma, achamos que não há nada a fazer no revolver do baú das recordações. Digo que andamos todos enganados, podemos mudar, acrescentar cortar a H-I-S-T-Ó-R-I-A. Afinal a escrita existe também para isso, aprender a re-contar é uma virtude.
A nossa casa é linda. Repara como aqui apertadinhos estamos tão bem um para o outro. Aqui tudo é teu e meu; nosso, nosso, quero eu dizer! Deixa-me ver, temos o lençol, este saco-cama velho e sujo, a roupa que trazemos no corpo e pronto. De resto nada, de mais nada. Estendidos na relva, de papo para o ar, nem as paredes de uma velha casa em ruínas nos separam do trânsito e das pessoas. Por vezes, pelos menos para mim, o dia custa a passar: levantar-me todos os dias, percorrer um par de metros, parar em frente ao centro comercial e implorar pela misericórdia de quem entra e sai das lojas; cansa-me. De segunda a domingo – sempre, sempre na iminência de nem uma migalha ter para partilhar contigo – deixa-me triste, muito mesmo. Desculpa. Sabes bem que o que nos faz andar nisto é o vício, a dependência de umas gramas de pó, para mim e para ti, em comunhão. Podíamos pensar em trabalhar como todos eles. Sim, a tempo inteiro, a fazer qualquer coisa. Vejo-me até a lavar escadas, a limpar a
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