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a ponte

Esforcei-me, até ao limite. Não pude dar mais. Esticavas a corda, eu arrastava-te de volta, naufrago à deriva. Doeu um pouco. O efeito do teu cigarro entorpecia a incompreensão, de quem perde a meio do jogo. A lembrança das noites de álcool a mais, cravava a distancia que se anunciava. Os astros perdiam o rumo aos signatários.
Levanta o rosto, caminha rua fora, sóbria, sedenta por quem te ame. Transfigura a imagem de menina traquina que te persegue. Prepara de novo o leito comum. Esforça-te para que desta vez as cores ajudem a felicidade a instalar-se. A chuva trará alguém por companhia. Um missionário das noites longas, partilhadas, ensopadas na alegria breve, que um dia também nos guiou.

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