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da alma

Ia jurar que nos últimos dias o meu coração deixou de bater.
Bato no peito e não obtenho resposta.
Um músculo forte e pára assim de um momento para o outro?
Sou jovem, tenho uma vida pela frente. É certo que não sou casado, nem tenho filhos, mas que raio, quero
continuar a andar por aí!

(Alguém me ouve?)

Se tivesse descontente já teria posto um balázio na cabeça ou uma corda ao pescoço. Mas não o fiz.
À Horas a fio nisto. Sem resposta.
Já quase não ouço. Nem risadas, nem conversas parvas à minha volta. E o barulho dos carros… onde se meteram todos?

(Brincar, tudo bem, mas assim não vale. É estúpido)

A luz?, simplesmente não vejo.
Maldita sina a minha. Se me cansar de vez disto, como é que encontro a saída, conseguem-me explicar?
Bem, sempre vos digo, deitarem-me sobre uma manta acolchoada áspera, por debaixo de uma tábua rasa é de muito mau gosto!

(Por amor de deus)

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